Falo muito sobre valores humanos e a necessidade que existe do colaborador se identificar com os valores da empresa, mas nunca falei sobre valores em termos de remuneração.
É fato que as pessoas troquem de trabalho por dinheiro algumas vezes. Alguns dizem que seus ex-colegas “venderam a alma” por migalhas. Pode até parecer verdade às vezes, mas na maioria dos casos (segundo a minha visão e experiência) não é.
Reconhecimento
Muitos dos fatores que levam as pessoas a sairem de seus trabalhos é a falta de reconhecimento. A conversa do líder não só com a sua equipe mas também (e talvez principalmente) com cada individuo separadamente é vital para que o funcionário perceba que está sendo reconhecido. Conversas em equipe não fazem as pessoas sentirem-se valorizadas. Não é este o seu propósito. Conversas em equipe servem para ALINHAR objetivos e expectativas mas não servem para gerar confiança. Podem servir para motivar a equipe a alcançar a meta (muito pelo fato de, geralmente, haver apenas UMA pessoa falando bonito e MUITAS pessoas sendo influenciadas pelo seu discurso) mas não servem para criar laços de amizade e companheirismo verdadeiro.
Reconhecimento não é medido. Ele é implícito. Assim como confiança. Simplesmente não se importam com isto. E talvez por isto algumas pessoas não dão valor a ele. Às vezes até ironizam as reclamações dos colegas e subordinados. Ao invés de utilizarem sensibilidade para mudar alguma atitude ou crença inadequada, ignoram-a e descartam a possibilidade de crescerem como seres humanos e profissionais.
O Líder fala muito. E esta não é uma característica ruim. Ele compartilha seus conceitos e experiências com quem estiver por perto. Mas apesar de falar muito, deve escuta mais do que fala!
O bem mais preciso de qualquer ser vivo é o tempo que ele tem para viver. Reconhecimento muitas vezes é escutar a pessoa e valorizá-la cocedendo seu tempo de vida nesta atitude. Falar é para os inteligentes, ouvir para os sábios.
Alguém falou algum dia: “se você tem dois ouvidos e uma boca" deveria mais ouvir do que falar”. Eu concordo.
O Valor da Remuneração
“Quem pede aumento de salário não está pronto para recebê-lo”
Ouve um tempo no qual as pessoas faziam, trabalhavam e pelos seus resultados e comprometimento, eram reconhecidas e valorizadas (literalmente, no sentido de receberem mais: dinheiro, atenção, respeito, admiração). Eu concordo com esta frase mas também penso que “quem realmente está pronto para receber o aumento e não recebe, procura outro emprego!!!”
Fato é que o empregador, responsável ou representante da empresa para estes assuntos, tem que estar um passo a frente e não um passo atrás. Eles devem “chamar para conversa” e não “serem chamados”.
Caso tenham a possibilidade oferecer algo, ofereçam! Caso contrário, digam que não tem. Compartilhem anseios, expectativas e escutem os anseios e expectativas das pessoas, conquistem por serem pessoas integras que agem de acordo com suas palavras e não pelo poder da posição e do respeito imposto.
Não dá para ouvir sobre “qualidade de vida” e o velho papo sobre tornar a empresa “uma das melhores empresas para se trabalhar” e não planejar as atividades dos seus recursos fazendo com que estes trabalhem 12, 14 16 horas no dia!!! Os recursos (por incrível que pareça) tem geralmente apenas 8hs de capacidade máxima de trabalho por dia e não é 24hs!!!! Além disto, eles tem família, amigos e vida própria fora do trabalho.
Claro, em alguns casos as pessoas topam trabalhar e apontar “horas extras”, mas aí esperam ser remuneradas por isto. Não acho que a saída seja pagar horas extras mas sim nivelar as atividades de cada recurso do projeto.
Uso e abuso
Vivenciei em uma empresa uma verdadeira carnificina mercenária na qual os desenvolvedores recebiam para executar o trabalho que não executavam no seu dia-a-dia!!!
Havia, é claro, muito mais trabalho para fazer do que capacidade de produção. De um dia para o outro os “líderes” tiveram a idéia de cobrar as customizações dos clientes (acredite se quiser: muitas vezes as customizações não eram cobradas!)
O problema é que cobrava-se entre R$120,00 e R$ 90,00 por hora vendida para a customização, mas o desenvolvedor recebia R$ 20.
Então um “Líder e Gênio” (certamente não é uma redundância) percebendo que nenhum dos funcionários topavam a empreitada, sugeriu pagar um % maior para o executor do trabalho. Pronto! Não preciso falar que começou a aparecer gente para matar as pendências. Se bobear tinha lista de espera para ganhar um troquinho extra…opa…quer dizer…para ajudar a empresa. O pior é que tinha gente (safados) que fazia as customizações em horário de trabalho!!!
Ou seja: estavam sendo pagos para uma tarefa em horário comercial e sendo pagos para ser realizada outra tarefa fora do horário mas deixavam de fazer as atividades rotineiramente das 8hs as 18hs (remuneradas com salários) para fazer as extras (remuneradas com as “cenouras”!!!
Resumo: a produtividade das tarefas extras aumentou e a produtividade do dia a dia caiu.
Saber a hora certa de reconhecer o trabalho e esforço das pessoas e perceber que tipo de MOEDA a pessoa quer receber é fator crucial para manter o ambiente saudável na empresa.
Se você é um líder, pelo menos tente! Nem que seja apenas ouvir atentamente o que as pessoas tem a dizer. Muitas vezes um simples papo (com ambos os lados ouvindo e falando) pode salvar projetos!
Alguns líderes não gostam de pessoas que identificam problemas e gaps. Não enxergam como possibilidade de aprimoramento. Não vêem o valor agregado que as necessidades representam para o cliente. Perdem a chance de superar as expectativas. Tornam-se medíocres.
Outros por sua vez, admiram, incentivam e ajudam suas equipes a superá-los. Tornam sem pessoas “templárias” buscando o Santo Graal da realização pessoal e do aperfeiçoamento. Se esforçam para deixar de realizar apenas o trabalho na pedra bruta e começarem planejarem a execução da grande obra.
O valor da remuneração é relativo para as pessoas. Pode ser sagrado: um símbolo do quanto o coletivo (a empresa) admira e valoriza o trabalho do empregado, mas também pode ser uma isca. Uma minhoquinha morta no anzol do "pescador carrasco”.
O dinheiro pode se tornar a algema da alma livre. Se for entendido como o reconhecimento merecido pelo esforço, comprometimento e produtividade do funcionário cumpre seu papel. Se for entendido como combustível não vale mais nada.
Mas então quer dizer que eu não gosto de dinheiro? Claro que gosto! seria hipócrita se falasse o contrário. O dinheiro, assim como qualquer outra coisa no Universo pode ser BOM ou RUIM: depende de como o entendemos.
O FOGO pode queimar e destruir, e pode também seu usado para fundir o ferro em esculturas lindas! Ou para assar aquela deliciosa pizza.
Trabalhar final de semana? Trabalhar a noite? ÀS VEZES é necessário! Mas se vira rotina tem algo errado.
Já diria meu pai: “Se o planejamento não é bom o trabalho é excessivo!”. (na verdade a frase que ele usa é: “quem não tem cabeça para pensar tem perna para andar”).
Agora lhe pergunto: você já teve que ficar horas e horas trabalhando, sentindo que está “perdendo tempo” de vida, perdendo a chance de estar com sua família, amigos e com a pessoa amada por que alguém não planejou os seus TO DOs de forma adequada??
Não gosto de colocar a responsabilidade dos meus problemas nas mãos de outros, mas…eu já!!
Será que seria valoroso para a empresa perder um colaborador que gosta do que faz pelo simples fato de não valorizá-lo? Ora, o combinado não sai caro. O acordo tratou de 8hs diárias. São 8 horas o período JUSTO pelo trabalho. E o que fazer sobre as horas extras?
Não é fácil negociar estas horas. Eu sei. Já trabalhei em uma empresa que ficou com cerca de mil horas trabalhadas minhas depois que eu sai. Se na situação de saída da empresa é difícil, imagina se você pretende se manter no trabalho! É muito complicado! O que você pode fazer é ceder algumas horas (para sentir que a empresa te deve algo) mas pontuar o fato como extraordinário e fora do acordo inicial de trabalho. Afinal: “o combinado não sai caro!”
Alternativas
Caso você se encontre nesta situação, não se esqueça que, no fundo no fundo, seu líder é responsável por criar conflitos. Cria conflito quando te dá uma tarefa “desafiante”, cria conflito quando não lhe paga o que você gostaria, cria conflito por não ser o seu líder (e não o contrário!). Sabendo disto, aqui vão algumas dicas alternativas para lidar com a questão “mais trabalho do que valorização”.
1. Sugira um re-planejamento das atividades de forma que (realisticamente) sejam redistribuídas para que atendam os quesitos mínimos de qualidade esperada pelo cliente;
2. Sugira a contratação de pessoal ou aumento de quantidade de recursos humanos na equipe afim de atenderem os prazos apertados (nivelando atividades entre as pessoas);
3. Antes de cair na burrice de pedir demissão ou aumento, procure outro emprego!
Kleiton Kühn
kleitonkuhn@hotmail.com
Tel.: 55 11 2893-2402
Cel.: 55 11 9141-9545
Site.: http://nrgconsultoria.com/
Antes de imprimir, pense em sua responsabilidade e compromisso com o meio ambiente.
3 comentários:
BOLA DE NEVE!
Ou "efeito dominó". É a esses efeitos que atribuo todos os problemas citados (lógico, cada um tem suas nuâncias, mas estou falando em linhas gerais).
Os empresários pagam os salários, e por isso sentem-se no direito de comprar suas horas, seus esforços, sua alma e sua vida.
Sua vida se torna um inferno, e por isso vc se sente no direito de querer sempre mais dinheiro, e faz o possível para dar aquele "jeitinho brasileiro" em td, para conseguir um pouco da paz q seu chefe insiste em lhe tirar.
Os empregadores sentem q seus funcionários são exploradores, cobram cada vez mais e fazem cada vez menos, e por isso se sentem no dinheiro de sugar até a última gota de suas pobres almas.
Os "líderes" preferem fiscalizar a conversar. Os empregados se sentem ignorados e se revoltam. Como está sendo fiscalizado eleva seu espírito de auto-preservação, se "escondem" nas falhas da fiscalização para aliviar um pouco da pressão que "aperta" naquele ponto fiscalizado. O "líder" ao ver que seus empregados só reclamam e burlam as fiscalizações, fecham ainda mais seus ouvidos, para não ouvir as lamentações alheias, e aumentam as fiscalizações.
Bom, quanto aos desenvolvedores mercenários que se aproveitavam dos Freelances, bom, como eu era um deles (dos desenvolvedores, não dos mercenários, rs), preciso defender a categoria. Nem todos eram assim! E vou dizer, os mais descarados eram os mais valorizados pela diretoria.
Bom, apesar de ter a possibilidade de pegar os tais dos "freelas", sempre repeti: "dane-se esse dinheiro, não quero recebê-lo, aliás, pago para não ter que trabalhar mais do que trabalho". Mas enfim, em certa ocasião, me pediram para quebrar um galho e fazer um "freela conjunto". E, conforme o previsto, me arrependi.
A chefia por pagar mais do que o simples salário se sentia no direito de mandar um "te vira nego, dá seus pulo", em pouco tempo eu estava dizendo "se você não vai me ajudar, eu vou te esfaquear", e lógico, pedi mais pelo projeto. Estava formada a bola de neve.
Eu poderia ter parado de fazer 10hs por dia e mais o projeto aos finais de semana. Poderia ter entregue um trabalho sem qualidade. Poderia ter me fingido de morto e recebido meu dinheiro. Mas esse não seria eu.
Chamei meus líderes e falei "não me prostituo, pega esse projeto e... faça o q bem entender".
Bom, desnecessário dizer q o "freela" culminou com minha saída da empresa, rs. Me senti extremamente decepcionado com a empresa e procurei um novo caminho a seguir.
Enfim, acho que a grande questão não é o tamanho, a gravidade ou a seriedade de um problema. A grande questão é que, às vezes, a queda de uma simples peça detona uma derrocada que poder ser desastrosa.
Como disse o Kleiton, uma palavra dita e não pensada ou uma palavra ouvida mas não assimilada pode causar uma dor de cabeça considerável.
E, desfechando esse "comment / post", deixo aqui um recado para alguns dos "líderes" que encontramos pelo caminho (inspirado na frase da boca e dos dois ouvidos):
"É melhor deixar de falar e permitir que pensem que você é um idiota do que abrir a boca e fazer com que tenham certeza"
;)
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