Há algum tempo atrás participei da implantação do ERP na maior distribuidora do Espírito Santo e em uma das reuniões sobre o status e a posição das pendências conversando com o executivo principal da empresa escutei a seguinte frase que realmente me marcou:
“Responsabilidade não se delega!”
Entendi num primeiro momento que eu deveria ter feito algo errado (ou poderia ter me omitido em algum momento), mas pelo contrário, ele estava assumindo que não havia gerenciado sua equipe de forma adequada e que não havia realizado uma comunicação efetiva. Tinha simplesmente aceitado unilateralmente que a pessoa que ele escolheu para centralizar as questões referentes ao projeto tinha entendido sua missão e a necessidade de concentração e comprometimento com os prazos.
A primeira coisa que me chamou a atenção foi o fato dele se colocar como protagonista responsável pela causa e (conseqüentemente) solução do problema.
A segunda foi o fato dele em questão de segundos chegar a esta conclusão: "Cometi uma falha de comunicação!"
Realmente admirei a postura dele como líder.
Alguém que assuma funções de liderança e que não se comunica adequadamente com as pessoas está literalmente, dando um tiro no próprio pé. Está estrangulando sua organização que estará fadada a convulsões ou a morte.
Já vivenciei situações nas quais os gerentes de projeto procuram apenas se salvaguardar. Esta postura é muito comum, infelizmente. A pessoa que deveria ser o líder responsável por gerar engajamento e produtividade é simplesmente um cobrador de tarefas que fica passando a batata quente de uma mão para a outra (pois na dele nunca está!).
Em última instância, pode até enviar e-mails para RESSALVAR-SE de eventuais falhas e faltas de execuções de tarefas pendências (como é a prática comum ultimamente nas empresas), mas infelizmente isto não impede de seu projeto atrasar, gerar mais custos e não ser executado efetivamente.
O pior de tudo é que em muitos casos existe uma complacência ou mesmo uma aceitação de que a responsabilidade não seria dele.
A onda da comunicação
Este mês a palavra que não me sai da cabeça é comunicação. Ela é a grande chave para resolver diversas mazelas do nosso dia-a-dia. Estou constatando que, ao contrário do que pensamos, os problemas não são os nossos relacionamentos afetivos, profissionais ou familiares, mas sim o nível de comunicação que mantemos neles.
Se meditarmos descobriremos que o problema é a falta de comunicação nestes relacionamentos (ou melhor, a falta de efetividade na comunicação).
No fim de semana passado fui à Ilha Bela e fiz uma das melhores aquisições dos últimos tempos: comprei um kit de mergulho contendo uma máscara de mergulho, um snorkel e nadadeiras (porque quem tem pé de pato é o pato!!). Descobri um novo mundo imenso de vida e beleza embaixo da água do mar. Diversas espécies de peixes de diversos tamanhos passeavam entre os corais e pedras sobre a imensidão do fundo azul. (Até uma tartaruga eu vi!! Foi realmente muito emocionante!)
Em certo momento me deparei com um cardume de sardinhas (creio eu) que reluziam de forma quase psicodélica na minha frente, cerca de um metro apenas abaixo do espelho d’água. Era interessante perceber o reflexo dos movimentos dos peixes no cardume que se moviam sincronicamente.
Parecia às vezes que tinha vida própria aquele coletivo!
Que era o próprio cardume uma espécie de ser vivo! E acho realmente que era mesmo, assim como as nossas organizações e empresas, só que não como aquela visão manipulativa, unilateral e autoritária de corpo indivisível, mas sim como uma estrutura dissipativa formada por autômatos vivos em autopoiese (auto-organização).
Fiquei pensando depois sobre as imagens que tinha visto e comecei a devanear sobre a possibilidade da existência de algum tipo de comunicação entre aqueles peixes. Será? Será que os peixes estavam se comunicando? Existia algum tipo de comunicação entre eles para decidir para que lado virar ou apenas um reflexo simultâneo em todos os membros do grupo devido?
Comunicação e Ação Comum
A resposta das perguntas acima é: Sim! Os peixes estavam se comunicando! Porque eles apresentavam os requisitos básicos para que este evento ocorresse: eles estavam em um ambiente social e coletivo agindo de forma comum (realizavam uma Comum Ação).
Os peixes se comunicam. E como pareceu perfeita aquela comunicação!! Aquele balé sub-aquático!! Mais uma vez testemunhei e entendi que para haver comunicação não são necessárias palavras!! Mas é claro, com as palavras parece ser mais fácil. Será?
Nós humanos
Temos como espécie este tremendo dom de gerarmos todo o tipo de conflito e desacordos. Conseguimos dar nós em pingos d’água. É claro que também realizamos coisas nobres, mas somos peritos em bagunçar as coisas às vezes.
Ouvi uma história certa vez sobre como a humanidade correu o risco de desaparecer da face da Terra por causa de uma falha de comunicação. Durante a guerra fria algum evento entre URSS e USA ocorreu e fez com que o outro país reagisse da forma mais defensiva possível: preparando-se para atacar!! E assim foi até que estivessem várias bombas nucleares (pelo menos uma dúzia delas) apontadas umas para um lado e outras para o outro.
Por sorte nossa, um lampejo de iluminação ocorreu em um dos presidentes que simplesmente ligou para o outro. Tiveram um diálogo mais ou menos assim:
- “Ei, vocês aí estão se preparando para nos atacar?”
- “Não que eu saiba ou tenha mandado!”.
- “Há bom! Então tivemos um problema de comunicação. Vou mandar meus militares relaxarem, ok?!”.
- “Ok! Vou fazer o mesmo! Abraço!”
Ironicamente uma ação comum entre os dois países quase ocorreu por uma falha de comunicação (ou interpretação dos fatos).
Não podemos pressupor nada! Nada que foi dito deve ser aceito como entendido até certificarmo-nos que entendemos de forma adequada realmente.
Alguém que fala alguma coisa, fala utilizando a sua vivência, o seu linguajar, seu sotaque e vocabulário. Omitir-se a esta verificação de efetividade da comunicação é se permitir a possibilidade de que algo sai errado.
“O conhecimento leva à União. A ignorância leva à dispersão”.
Pode ser que Ramakrishna (o célebre Mestre Hindu de Yoga) estivesse apenas meditando sobre o comportamento dos peixes. Ou ele pode ter ido além e entendido uma importante lei Universal.
Fato é que há muito tempo o homem conhece a importância da comunicação para unir e dispersar forças.
A máxima militar “Dividir para vencer” é uma pérola a ser analisada. Implicitamente está dito “Juntos venceremos” e ao mesmo tempo em que alinha o comportamento e a estratégia que deve ser tomada para a vitória pelo exército que a tem como conduta, determina a forma com a qual o inimigo será derrotado.
O contexto é militar, e por isso regido por um contexto de escassez. Não existe espaço para a abundância neste contexto. E para mim, o mercado tem infinitas oportunidades. Basta que ocorra a comunicação!!! Comunicação entre as pessoas que fazem parte da equipe, entre estes e os clientes e fornecedores, e governo, etc.
Estamos chegando ao fim da era do poder centralizado, da manipulação e da influência autoritária sobre as pessoas. Estamos transcendendo este paradigma como sociedade e como organismo social vivo. Precisamos urgentemente implementar formas de gestão participativa, pois só nestes ambientes conseguimos realizar a comunicação que gera resultados e felicidade.
E como sabemos FELICIDADE não é nada mais do que o efeito da auto-realização. Ora, somos muito mais que meros autômatos mecânicos. Temos auto-consciência e a certeza da morte. Somos serem impermanentes e transformadores. Temos nossas emoções que dão o colorido aos nossos dias e também a razão que pode servir de ferramenta para nossas tarefas...
Temos nossos valores e propósitos, então o que nos falta para começarmos a vivê-los? Talvez tenhamos que mergulhar de cabeça na comunicação!!!
Kleiton Kühn
Nenhum comentário:
Postar um comentário