quinta-feira, 17 de setembro de 2009

O papel da qualidade no desenvolvimento de Software

 

Vejo que o mercado vem mudando sim, principalmente tomando-se, como base, cenários de uma década atrás, por exemplo. Porém, não creio que a diferença seja que antes pagava-se por qualidade e hoje não mais. Em verdade, o cliente antes pagava por qualquer coisa. a demanda era vertiginosamente crescente e a quantidade de pessoas que produziam Softwares de maneira minimamente séria era indiscutivelmente baixa.

Por consequência disso, os desenvolvedores tinham um tempo razoável para trabalhar, e o produto podia ter mais qualidade. Não por exigência do cliente, mas porque o mundo era diferente, a urgência era outra, a concorrência em muitos setores era praticamente nula, a cultura do desenvolvimento tinha outros princípios.

O que vejo é que, assim como em qualquer outro mercado, quanto mais produtos similares o cliente tiver a opção de adquirir, mais atenção aos detalhes ele dará, e é nesse ponto que aquele que tiver mais diferenciais reais e percebidos pelo cliente (o conhecimento no negócio, por exemplo) irá vencer a competição.

Questão importante: mas e a qualidade, não é um diferencial???

Resposta: ao meu ver, não! Pelo menos não de início. Com o tempo talvez o cliente se arrependa da aquisição e talvez ele pense:

“Puxa, se pelo menos eu tivesse ouvido aquele cara que não tinha carisma nenhum” - é um cara técnico tentando vender sistema – “Mas que foi sincero e me explicou que um sistema não poderia ser feito pelo preço que eu gostaria de pagar e muito menos no prazo que eu esperava receber...”

Mas neste ponto talvez já seja um pouco tarde. Softwares muito grandes são difíceis de trocar assim, de uma hora para outra. Muitas vezes envolvem a “cabeça” de pessoas demais dentro de uma empresa, ou às vezes cabeças muito “influentes”, o que sempre acontece em grandes corporações. O fato é: numa dessas, muitas vezes o desenvolvedor bem intencionado já ficou para trás, enquanto que o vendedor esperto já garantiu suas férias no caribe.

Bom, a moral da história é que, para o cliente, soam mais irresistíveis aquelas promessas mirabolantes de um vendedor “macaco velho” (se possível com aquele toquezinho de “desconto para clientes especiais”) do que a realidade nua e crua de que sem qualidade um sistema não passa de “jogada de marketing”.

Ao meu ver, a realidade é que o cliente não percebe, nunca percebeu e, talvez, nunca perceberá a importância da qualidade de um Software. Isto porque, para ele, é parte implícita na compra de um Software que o mesmo faça o que ele quer e da maneira que ele quer.

Costumo comparar isso ao comportamento de qualquer cliente (inclusive desenvolvedores de Software) ao comprar, por exemplo, um celular.

Mas deixe-me explicar melhor: quando você compra um celular, você costuma ler atentamente cada recurso que o celular deveria ter conforme a especificação? E mais do que isso, você TESTA cada um dos itens da especificação??? Mas é claro que não!

Deixe-me expor uma situação ainda mais absurda, mas que esclarecerá perfeitamente o que quero dizer: o que você sentiria se descobrisse, 1 ano depois da compra, que o seu celular não faz ligações para o Acre, às terças feiras, em noites de lua cheia em que o céu está nublado e, ao reclamar, o suporte lhe dissesse “Mas o senhor não testou esta situação quando recebeu o produto?”. Eu lhe digo o que você sentiria: Ódio! Ódio mortal!

Pois então, porque é que um cliente comprador de Software deveria se comportar diferente? Sim, eu sei que Softwares hoje em dia são produtos altamente personalizados, sei também que uma função que na tela parece simples provavelmente envolverá dezenas de linhas de código, mas o cliente não sabe! E nem é obrigado a saber.

Agora, uma coisa que é inegável. A longo prazo, a qualidade é realmente a alma do negócio. Um sistema bem estruturado, com o passar do tempo, vai gerar trabalhadores orgulhosos e clientes satisfeitos. Um mal estruturado irá gerar trabalhadores paranóicos e clientes com leves tendências homicidas. Fato!

Agrega-se a isso o fato de que um cliente satisfeito espalha as boas novas para 5 pessoas. O insatisfeito denigre sua imagem perante 15. Logicamente este número é um chute e variará de mercado para mercado, de situação para situação, mas é um cenário constante em qualquer tentativa de comercialização de produtos ou serviços.

Mas então, se a qualidade em si não é um diferencial na hora da venda (lembrando que estamos falando de um primeiro contato com o cliente que não tenha um “pré-conceito” formado sobre o produto ou a empresa), mas se é imprescindível a longo prazo, como eu faço para gerenciar estes dois momentos distintos porém indivisíveis?

Bom, é um assunto interessante, mas acho que isso já é um outro tópico...

 

(Texto de Hideki Kawauchi – amigo e colaborador)

Comentário de Kleiton:
Hideki, espero que continue se arriscando a escrever o que pensa. Sua opinião é sempre muito valiosa. Primeiro para você mesmo (pois escrevendo nos forçamos a aprender e definir nossos conceitos e significados) e segundo porque não estamos sós: muita gente busca conceitos de qualidade, conceitos de gerenciamento de projetos e uma nova visão sobre as práticas em empresas de TI. Invista tempo nisto! É o primeiro passo para transformar a realidade. abração!!!

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