terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

∴Sobre as primeiras experiências profissionais∴


nascemos aptos a criatividade.
Ou por excesso de energia ou por preguiça (ou ambos). As pessoas com excesso de energia geralmente se tornam artistas, pintores, escultores, músicos. Eles procuram canalizar toda sua energia intensa de maneira a gastá-la de uma forma de ninguém nunca gastou. O trabalho desses artistas geralmente é único. Quanto mais energia tem, menor o volume de trabalho e mais único é o trabalho. Os criativos por preguiça são administradores (meu caso). Eu desde criança fui, digamos assim, “focado em processos”. Na verdade eu preferia pensar em uma forma criativa de fazer as coisas que eram geralmente feitas da mesma forma por todos.
Quando simulava guerras entre os playmobils, ao invés de derrubá-los um a um com um peteleco eu usava uma régua para derrubar todos de uma só vez ou movia o tapete abaixo deles de forma cataclísmica. Ao brincar com as bolinhas de gude sobre a cama, ao invés de recolher bolinha por bolinha eu preferia dobrar a coberta a fim de reuni-las e depois vira-las direto dentro da lata onde eram guardadas. Para subir na árvore na frente de casa (que não tinha muitos galhos de apoio baixos) preferia subir no muro e depois para o teclado e daí direto para a copa da árvore.
Sou um preguiçoso criativo e por isso meu trabalho é único e intenso.
É da minha natureza procurar alternativas para facilitar o trabalho (o meu ou de outros), fazer o trabalho de forma diferente e inteligente. Algumas pessoas sentem-se realizadas por repetir operações mecânicas e outras por conhecer linguagens e tecnologias tangíveis e específicas. Eu gosto de ver o todo de forma sistêmica e de tentar gerar uma dinâmica estável.
Quando estagiei no BANRISUL no departamento de serviços, nós estagiários éramos (inicialmente) responsáveis por responder às agências dos clientes que solicitavam extratos das contas de FGTS. O processo era esse:
· Pegar a solicitação mais antiga do bolo gigante de solicitações (que tinha solicitações de mais de um ano não atendidas);
· Descobrir o código do cliente;
· Descobrir o código das empresas do cliente;
· Pesquisar os extratos de cada uma delas, imprimindo cópias das microfichas;
· Datilografar uma carta de resposta ao cliente e encaminhá-la agência na qual o cliente solicitou;

A primeira idéia foi criar uma Linha de produção.
Cada estagiário ao invés de fazer todas as etapas do processo faria apenas uma:
· Um estagiário para pesquisar o código do cliente;
· Um para pesquisar o código das empresas nas quais o cliente trabalhou;
· Outro para pesquisar os extratos de cada uma delas, imprimindo cópias das microfichas;
· E dois para datilografar as cartas de resposta aos cliente e encaminhá-las as agências;

Eu fiquei com esta última tarefa. Em poucos dias percebi quais seria os tipos de respostas possíveis e criei documentos word que serviam como templates para cada tipo de resposta. Passei a ser o mais rápido respondedor. Com as respostas sendo mais efetivas e rápidas, o gargalo passou a ser a pesquisa de empresas dos clientes. Como eram inicialmente duas pessoas respondendo as solicitações realocamos uma para o nova restrição da nossa linha produtora: a pesquisa do código das empresas dos clientes.
Uma única pessoa realizando este trabalho já havia agilizado o processo. Agora com duas pessoas conseguimos colocar em dia esta pesquisa: cada carta que chegava era imediatamente submetida a pesquisa e aguardaria na fila da impressão das cópias das microfichas. Esta foi a ultima realocação de recurso.
Os estagiários ficaram alocados da seguinte forma:
· Um estagiário para pesquisar o código do cliente e código da empresas nas quais o cliente trabalhou;
· Dois para buscar as microfichas nos arquivos.
· Um para imprimir as cópias das microfichas;
· E um para datilografar as cartas de resposta aos cliente e encaminhá-las as agências;

Enfim, eu estava crendo neste momento que o mundo não valoriza uma formiga preguiçosa nem uma abelha criativa assim como deve estranhar uma cigarra trabalhadora que repete sempre seu cantar sem inspiração e motivação criativa.
Como podem imaginar, depois de todas estas reviravoltas acabei me entediando com o ambiente burocrático e moroso da empresa estatal, pelo menos naquela época. Hoje os tempos são outros: as empresas estatais são ágeis, produtivas e geram lucro. Não servem mais de cabide de empregos para Cargos de Confiança ou nepotismo nem para o pessoal bom do partido da situação ganhar um dinheirinho. (uma pitada de ironia e sarcasmo nunca é demais!). Estava na hora de aprender mais sobre outros negócios, pois o trabalho em uma estatal definitivamente não era o meu caminho.
Fui aprender sobre Qualidade em outra empresa. Mas esta é outra história...

Um comentário:

Anônimo disse...

Compartilho do mesmo perfil que o seu.
Enquanto alguns vivem e realizam "mecanicamente" ;somos aqueles que se recusam a viver rotina em qualquer área da vida.
Constantemente buscamos maneiras novas e facilitadoras para realizar atividades corriqueiras com criatividade e eficiência.
Com isso beneficiamos e facilitamos a vida daqueles que realizam tudo mecanicamente.