sexta-feira, 7 de agosto de 2009

∴Melindres∴

Gostaria de escrever hoje sobre situações que aconteceram (e acontecem) na minha vida profissional que julgo destrutivas para os relacionamentos profissionais: Os melindres!

Pessoas Melindradas são aquelas que se chocam facilmente. Tudo é uma agressão aos próprios princípios antes mesmo de se discutir sobre o assunto. São pessoas que não conseguem conversar no sentido de resolver os problemas mas assumem sim a atitude de não encarar os conflitos. Elas personificam os problemas ao invés de tratá-los como parte do processo de aprendizagem sistêmica. Não resolvem desconfortos e, pelo contrário, falam por trás das pessoas envolvidas, sem tentar resolver nada. Não tem iniciativa nenhuma para sentar e esclarecer os pontos obscuros e desatar os nós das dificuldades a fim de desenvolver a si mesmo e a equipe, pelo contrário, rejeitam tais iniciativas.

Vou contar-lhes uma história que pode (ou não) ser baseada em fatos reais. Mas talvez seja melhor que entendam apenas como um conto de ficção. Conto aqui uma história de mentira que representa muitas vezes grandes verdades empresariais.

Era uma vez uma empresa chamada Talmet Systems. Na Talmet trabalhavam pessoas que se diziam pragmáticas e realizadoras, mas esta não era toda a verdade. A empresa em muitas situações era desorganizada e não tinha visão estratégica de governança e gerenciamento de processos.

Trabalhava lá também um rapaz (chamado “Sobrinho”) que,  tendo entrado muito novo na empresa, não conhecia outras realidades empresariais. Para ele os seus diretores eram Ídolos e ele nunca (eu disse NUNCA) apresentava opiniões divergentes a eles.

O nosso amigo “Sobrinho” era uma pessoa com muito conhecimento técnico (pelo menos era o que todos pensavam, até porque em uma empresa na qual a média de conhecimento técnico era nota 4 - de zero a dez - ele era nota 5!!) e por isto foi transformado em Coordenador.

Ou seja, para aquela realidade ele era BOM, mas na verdade era MEDÍOCRE (no sentido de mediano, médio), já que não identificava sistemicamente as falhas nos processos e as causas mais profundas dos retrabalhos, falhas de desenvolvimento e parametrizações que, corrigindo-se para um cliente, afetava vários outros e também não tinha competências gerenciais para lidar com sua equipe.

Sua vida no suporte a clientes e na manutenção das soluções da empresa era correr, correr, correr…fazer, fazer, fazer…corrigir, corrigir, corrigir…eternamente…num ciclo repetitivo e sem fim os mesmos erros e problemas de sempre. Isso para os diretores e funcionários da Talmet era valorizado: estar sempre ocupado resolvendo um “pepino”.

Minha visão sobre o fato é um pouco diferente: se ainda fossem erros e problemas novos, poderíamos dizer que a empresa estivesse crescendo e aprendendo, mas não. Eram sempre os mesmos erros, sempre as mesmas falhas. Alterava-se, corrigia-se e enviava-se a versão do software sem necessários testes, inspeções e homologações dos recursos. A empresa não aprendia.

Estranho? Na verdade não! Não podemos esperar de uma pessoa que não apresenta suas idéias algo diferente. Talvez não seja responsabilidade dele, mas sim da empresa, dos seus superiores, já que estes nunca incentivaram a sua criatividade e senso de julgamento.

Ora, se os diretores não focavam os problemas prioritários e sistêmicos, por que ele (praticamente um moleque) haveria de focar? Porque logo ele haveria de enxergar que algo estava fora de ordem??

A verdade é que a empresa não era madura o suficiente para entender problemas como possibilidades de aprendizagem e melhorias. Eles entendiam os problemas como “coisas que eles deviam resolver imediatamente”, e por isto nunca tinham tempo de pensar sistemicamente no processo, mas simplesmente atuavam sobre os efeitos dos problemas por eles mesmo causados.

Qualquer crítica nesta empresa que fosse feita sobre um processo era entendida como uma ofença pessoal. As pessoas não entendiam que o problema era uma falha no gerenciamento ou definição da tarefa, entendiam como julgamento sobre a competência de alguém.

Inúmeras foram as vezes nas quais alguém com senso crítico comunicou as necessidades de aprimoramento e as pessoas na empresa entendiam como se eu estivesse falando mal de alguém.

-“Precisamos melhorar nosso processo de gerenciamento de projetos. Ele é amador e ineficiente” – dizia alguém preocupado.

- “Nossa!, você não pode falar que o gerente de projetos é amador e ineficiente!! Que grosseria!”

 

-“A função do nível dois no atendimento ao cliente não é esta que estão lhe impondo, estou precisando de auxílio e o atendente está ocupado realizando tarefas que deveriam ser do coordenador dele!!”.

- “Como você pode falar que o Atendente N2 não está fazendo o trabalho dele direito?!? Isso desmotiva a pessoa!!”

Melindre e a personificação dos problemas. É uma grande dificuldade que impede o crescimento do nível de aprendizado da empresa. Ela demonstra a falta de maturidade para encarar os problemas nos processos como parte do dia-a-dia e não como culpa de alguém.

Mesmo assim, o funcionário tem que conseguir identificar até que ponto ele está disposto a tentar mudar a realidade e os paradigmas da empresa onde trabalha e até que ponto valerá a pena. A reflexão sobre: será que vale a pena? Será que eu confio suficientemente nos líderes desta empresa para continuar a tentar transformá-la em um lugar melhor para se trabalhar? Será que não sou eu o “peixe fora d’agua”? Será que não é melhor eu sair ao ter que investir energia em uma missão impossível?

Até onde vai a hipocrisia ou a falta de visão das pessoas que trabalham lá e principalmente dos líderes que as orientam e até que ponto vai a sua própria falta de amor próprio e integridade? Falar sobre Integridade e julgar as pessoas é fácil. Difícil é admitir a própria miopia.

 

Moral da história: CADA UM TEM O QUE MERECE!

No caso da empresa Talmet, “Sobrinho” virou sócio é ainda é coordenador; e a pessoa preocupada em aprimorar os processos decidiu sair da empresa.

E o que eu tenho a ver com esta história? Nada!!!! (não quero causar mais melindres!!!)

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